Exercício de Lógica sobre: Funk Ostentação

De repente, os programas de TV estão infestados de "cantores" de funk ostentação.
Qualquer tipo de programa de TV aberta, lá estão eles, tentando responder perguntas, desfilando cordões dourados exagerados, disparando novas gírias e fazendo seu barulho.
Sem discutir a qualidade musical deste estilo brasileiro ( o funk original nada tem a ver com essa mistura de rap com remixes), vamos tentar entender o motivo deste sucesso.
O funk, com estas características sonoras, já existe faz tempo; já fazia grande sucesso entre os jovens de todas as classes sociais. Estamos tentando entender porque, só agora, é que o funk impregnou a grande mídia.
A qualidade sonora é a mesma, mas o tema das letras mudou. Teve crítica social, passou para apologia ao crime, circula pelo sexo explícito, e chegou na ostentação. Por que somente quando o funk passou a valorizar bens de consumo inacessíveis para a maioria dos fãs é que ele "funcionou" para o público "global"?

Já é fato o procedimento de condicionar o gosto popular pela repetição. Isso já ocorre com propagandas políticas, boatos e músicas populares. Para um público que está acostumado a não questionar, "se uma mídia de massa diz que é bom, deve ser bom".
Para conseguir divulgação numa mídia de massa, dinheiro deve ser investido.
Mesmo lotando shows em bailes, o público não tem condições de pagar ingressos capazes de bancar toda essa divulgação.

Existem mecenas (pessoas ricas que investem em artistas sem necessidade de restituição) nas comunidades?
Existem interessados em lavar dinheiro (transformar dinheiro recebido de ações criminosas em dinheiro que pode ser declarado no imposto de renda) nas comunidades?
Partindo da suposição de que é maior a possibilidade de existir alguém querendo lavar dinheiro, vamos entender como isso pode funcionar:
 - O ingresso para o baile funk custa R$50,00.
 - O falso mecenas compra todos os ingressos (esse tipo de compra é anônima, não se tem registro de quem comprou, mas a administração do show pode registrar a entrada limpa desse valor) por R$50.000,00.
 - Os ingressos são distribuídos (ou vendidos por R$1,00) entre a comunidade.
 - A administração do baile paga R$15.000,00 para os artistas e despesas do baile.
 - A administração do baile, que é do próprio falso mecenas, fica com R$35.000,00 limpinhos, com fonte de renda declarada.

Quem poderia ser esse falso mecenas? Acredito que a resposta óbvia é o traficante.
Será que o traficante não fazia isso antes?
Os shows de funk podem sempre ter sido patrocinados por traficantes (existem até "obras" compostas em homenagem a alguns chefões), mas não cairia bem para um traficante a divulgação de um artista seu cantando incentivos a assassinatos de policiais.
Funks sobre sexo também sofreriam uma certa resistência das mídias.
Funks engraçadinhos ou sobre temas femininos até fizeram algum sucesso, mas por que só o funk ostentação brilhou tanto?
Suas letras incentivam o consumismo de artigos de luxo, como jóias, veículos importados ou roupas de marcas.
São produtos incompatíveis com a renda média dos moradores das favelas. Alguns pais gastam todo o salário do mês para comprar o tênis da marca que o filho faz questão.
Estariam os traficantes aliados aos revendedores de produtos de elite?
Um pai não tem condições de comprar um perfome da Ferrari para seu filho adolescente. Já um adolescente, que trabalha para o tráfico, pode comprar até um veículo Ferrari se subir rápido na cadeia de comando.
Ao mesmo tempo que o tráfico de drogas limpa o seu dinheiro com o Funk ostentação, o funk ostentanção planta na mente dos jovens um ideal de sucesso que, na realidade deles, só pode ser atingido por meio do funk, do futebol, ou do tráfico.
Como não existem tantas vagas assim para funkeiros ou futeboleiros, resta a carreira do tráfico para seguir o sonho da ostentação.
Agora, todo final de semana na TV, aparece um funkeiro para fazer barulho e te convidar para o ostentoso mundo do crime.

Será que os administradores das mídias não sabem dessa relação? Ou será que esse estudo de lógica não faz sentido algum? Ou será que um estudo de lógica sobre as mídias se faz necessário?


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