Os deuses não se enganam?

Um comportamento que se repete muito no Brasil é a crença no ditado "santo de casa não faz milagre"; pra ser bom tem que vir de fora.
Por conta disso, pessoas atribuem um distanciamento mítico para tudo que elas veem como sendo símbolo do sucesso: Se funciona, é porque alguma divindade quis assim. Livros são escritos por entidades superiores, e artistas de televisão são seres de uma dimensão paralela.
Provavelmente por causa da baixa cultura e da falta de vontade de trabalhar, essas pessoas não conseguem assimilar o fato de que um ser humano, assim como eles, pode produzir algo de sucesso.
Quantas vezes não se ouviu aquele pessoal falando que a novela da Globo é uma porcaria, mas deu nove horas, olha o infeliz lá, na frente da tv, vendo a novela.
Com os RPGs é a mesma coisa: o pessoal reclama, fala que o D&D virou um videogame, que perdeu completamente a noção de roleplay, mas ainda assim, a turma continua endeusando o jogo, como se não houvesse versões nacionais bem melhores do mesmo cenário. Os roleplayers preferem continuar jogando algo ruim, se esforçando para achar que é bom, ao invés de pesquisar o que é Old Dragon ou como funciona o Mighty Blade.
A própria equipe da Wizards of the Coast mostrou que não sabe direito o que está fazendo, lançou a versão 3.5 alguns meses depois do lançamento da versão 3 para tentar corrigir sua falta de playtestllçççç
, e tudo que vem do estrangeiro continua sendo como se fosse uma palavra divina. Se os "masters" disseram, devemos aceitar que é verdade.

Temos um exemplo atual da falta de noção de entidades tidas como portadores da verdade absoluta da civilização pós-moderna na cerimônia de entrega do Oscar 2013.
Não estou criticando aqui a falha. Também não estou desculpando a falha, mas o foco aqui é mostrar como que pessoas não percebem que empresas, livros, novelas, eventos, tudo é feito por pessoas, como você, e pessoas, eventualmente, podem falhar, você não é obrigado a aceitar tudo que lhe é empurrado como certificado e comprovado como sendo verdadeiro.

Vamos aos fatos: O Oscar, que simboliza o evento máximo de uma indústria trilhonária mundial, que incentivará milhões a assistirem seus filmes premiados (meu cunhado faz coleção de dvds de filmes ganhadores do Oscar), esse evento que faz todo um suspense para apresentar o vencedor de cada categoria, esse evento teve a capacidade de indicar o mesmo filme nas categorias "Melhor Filme Estrangeiro" e "Melhor Filme".
O simples fato de ter a categoria "Filme Estrangeiro" já diz algo da "generosidade" deles, pois até criaram uma categoria para filminhos menores terem a chance de ganhar o prêmio (afinal, filme bom só eles sabem fazer, né?).
E nesse ano eles repetem a mesma bobagem que fizeram em 1999, de achar um filme estrangeiro "tão bom" que merece concorrer como melhor filme também.
Putz, se o filme "Amor" conseguiu até extrapolar sua própria categoria (filminhos de segunda) para concorrer na categoria principal (filmões que eles fazem), alguém tem alguma dúvida de qual filme vai levar a estatueta de "melhor filme estrangeiro"?
Sim, o Oscar, uma entidade histórica, comandada por pessoas consideradas experts no que fazem, essa entidade está passando por um papelão desses. De novo.

Tudo bem que o Oscar é só um prêmio, não vai interferir no salário de ninguém por aqui, mas está funcionando só como exemplo: Quantas mentiras você ouviu da televisão hoje? Quantas regras falhas você leu em regras de RPG neste ano? Você se questionou alguma vez? Ou decidiu acatar o que estava escrito ou o que a televisão falou, afinal, deuses não se enganam.


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